Em Física, o deslocamento
de um corpo é definido como "a variação de posição de um móvel dentro de uma
trajetória determinada". Deslocar-se é uma necessidade humana, isto então que os fisicos dizem aparenta ser nada mais que o óbvio. Podemos de fato ser considerados objetivamente como pontos que se locomovem através do espaço, com origem e destino bem definidos e que o mundo pragmático pleno de horários e urgências em que vivemos exige cada vez mais que o percorramos com a devida velocidade e, mais uma vez, objetividade. Essa mera permuta de posição no
tempo-espaço da forma que ocorre faz com que não nos demos conta de que esta trajetória que tanto fazemos todos os dias está escrita numa
cidade, cujo papel foi então reduzido a um lugar de passagem - não vivenciado plenamente.
Andamos pelas ruas sem falar com a cidade, sem viver de fato esse espaço. Andamos calados e a cidade também parece estar muda. O
percurso é cumprido assim, sem diálogo. Como proporcionar então essa tomada do espaço urbano, fazendo com que aconteçam de fato as trocas e apropriação da cidade? Entendemos que o jogo seja um caminho. Através do lúdico abrem-se as possibilidades, revelam-se diferentes percepções e perspectivas para o mundo que nos cerca. É através do lúdico que descobrimos, que trocamos com o mundo, que experimentamos. Ao incorporar o lúdico ao cotidiano nos abrimos para a cidade, para sua compreensão e damos espaço para que ela também interfira. Eis que surge a oportunidade para vivenciarmos nossa trajetória (e criar novas).
O percurso, que em francês significa
le parkour, foi o nome dado a uma prática, ou disciplina, ou arte (também conhecida como l'art du déplacement, em português
a arte do deslocamento) que consiste em percorrer uma determinada trajetória de forma rápida e eficiente usando basicamente as habilidades do corpo humano. Para tal, é necessária uma prévia avaliação do percurso a fim de entender como melhor se apropriar do caminho e assim saber qual movimento executar. Desta prática (ou disciplina, ou arte) pegamos emprestado seu espírito e o apresentamos como provocação/convite: como podemos nos apropriar do nosso percurso? Ou quem sabe ainda: como podemos vivenciar nosso percurso de forma lúdica e criar uma maneira de se deslocar? Está lançado o desafio.
O deslocamento é uma forma de se expressar, um meio de se comunicar com a cidade, de ler e de escrever. O momento é de busca de uma expressão, de uma
arte do deslocamento. O desafio é desafiar e ser desafiado pela cidade. A vida é o que está em
jogo.